quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Uma semana na terra das aguas.







O Estado do Pará está intimamente ligado a Amazônia e é uma terra de incrível beleza e de grande riqueza cultural e folclórica. Belém, considerada a metrópole da Amazônia foi fundada em 1616 tendo como marco inicial o Forte do Castelo. Banhada pela Baia do Guajará e pelo Rio Guamá tem belos exemplos de arquitetura dos séculos XVII e XVIII com casarões azulejados e igrejas barrocas. Através de um city tour pela cidade velha é possível observar claramente as marcas que o tempo ainda não apagou.
Devido sua proximidade com a linha do Equador, seu clima é quente e úmido com temperatura média de 26ºC e máxima em torno de 35ºC. Suas ruas e praças são arborizadas, onde a mangueira é a principal espécie.
Uma das grandes atrações de Belém é o complexo do ver-o-peso, feira de produtos amazônicos onde se encontra de tudo. Reformada recentemente a feira está muito mais apresentável e organizada. Visitar a feira é item obrigatório num tour por Belém.
Outro destaque do Pará é a exótica culinária. Considerada como a mais autenticamente brasileira, descende diretamente da culinária indígena. É da floresta e dos rios amazônicos que são extraídos seus ingredientes, de onde podemos destacar pratos como: Pato no Tucupi - molho de cor amarela; Maniçoba - uma espécie de feijoada local; Tacacá - caldo bem quente e apimentado servido numa cuia; Pirarucu, Tamuatá e Filhote - deliciosos peixes amazônicos. Outro ponto de destaque da região é a incrível diversidade de frutas tropicais: Açaí, Cupuaçu, Bacuri, Graviola, Saputi, Araçá, Manga, Taperebá, Muruci, Uxi, etc.
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é a maior festa religiosa do país e reúne, no segundo domingo de outubro, uma fantástica multidão de mais de um milhão de pessoas que percorre cerca de seis quilômetros das ruas de Belém em oração à sua Santa Padroeira. Principal festa dos paraenses, sua origem remonta ao início do século XVIII, quando a tradição afirma ter o caboclo Plácido encontrado uma imagem milagrosa no local em que hoje está a Basílica de Nazaré. A devoção cresceu e em 1793 iniciou-se a romaria, que cresce em número de participantes a cada ano. Os festejos começam na sexta-feira, quando a imagem é conduzida da capela do Colégio Gentil Bittencourt (onde fica durante o ano todo) até o vizinho município de Ananindeua. No sábado segue para Icoaraci, para uma procissão fluvial matutina, o chamado Círio das Águas, em direção ao centro de Belém, retornando ao Gentil.
Na noite do sábado acontece a Transladação, sendo a imagem conduzida à Catedral de Belém, de onde sairá às 7h do domingo em direção à Basílica de Nazaré, gastando no percurso entre quatro e cinco horas. Após os ofícios religiosos a data é comemorada festivamente em todas as casas, com o tradicional "almoço do Círio", onde cada família católica põe na mesa o que de melhor dispõe, seja nos adereços, seja no cardápio, cuja estrela é o "pato no tucupi", principal iguaria dos paraenses. Os festejos "profanos", na área ao lado da Basílica, prosseguem durante 15 dias e, após isso, acontece o Recírio, procissão que reconduz a imagem ao seu nicho no Colégio Gentil Bittencourt, onde aguardará o Círio do ano seguinte.
O Pará é terra de muita magia e lendas, onde o folclore está presente na maioria das festas. Tanto em Belém como em outras cidades é possível assistir e participar de eventos que mesclam as tradições indígenas, africanas e portuguesas através de ritmos populares, tais como o carimbó, síria, lundu e folguedos de época com o boi bumbá, cordões de pássaros e de bichos.
O artesanato do Pará descendem de antigas civilizações indígenas, reproduzem com grande fidelidade a cerâmica marajoara, criada pelos primitivos habitantes da ilha de Marajó. O distrito de Icoaraci, que dista cerca de 18 km de Belém, é o principal centro de produção. Lá, é possível comprar reproduções de peças históricas (vasos, tangas, estatuetas, etc) ou novas criações obedecendo ao estilo indígena. Além da cerâmica, existem outras formas de artesanato, utilizando a imensa diversidade de recursos da floresta, como fibras típicas da região, raízes aromáticas, batatas, cuias, plumas, etc.

Na foz do rio Amazonas encontra-se o maior arquipélago fluvio-marítimo do mundo. Com quase 50 mil quilômetros quadrados, o Marajó é maior que vários países europeus. Sua exuberante paisagem é composta por florestas, campinas, gramados, praias de rio, lagos de todos os tamanhos, furos e igarapés. A fauna marajoara é muito rica, onde se destaca o raro guará além de jacarés e muitas espécies de peixes. Impossível falar de Marajó sem lembrar de seu principal símbolo: o búfalo. Este chegou à ilha no final de século XIX e hoje o Pará soma 1,5 milhão, o que representa 50% do rebanho nacional. O búfalo é de fácil adaptação e de fácil reprodução. Tem grandes vantagens sobre o gado, pois produz mais leite e sua carne é de qualidade e paladar superior.
As principais portas de entrada do Marajó são os municípios de Salvaterra e Soure que são separados pelo rio Paracauari. O acesso à ilha é feito através de barcos, que dura de duas a três horas dependendo do destino ou através de vôos fretados, cerca de 15 a 30 minutos. Devido a sua localização, entre o rio e o mar, as praias fluviais apresentam ondas de até dois metros e dependendo da maré a água pode ser doce ou salobra.


Meu roteiro

Essa viagem foi parte de minhas férias de outubro/2002 e através de um pacote de sete dias da operadora Travel In pude conhecer os encantos de Belém e Ilha do Marajó.

Primeiro dia

Desembarquei no aeroporto de Belém às 13:30h e fui recebido pela Vera com as boas vindas paraenses. Após uma rápida passagem pelo hotel para deixar a bagagem, fui apanhado pela Regina, minha guia nos próximos dias, e fomos ao Bosque Rodrigues Alves, a parte antiga da cidade e ao mercado São Brás. No final da tarde fizemos um passeio de barco pelo rio Guamá. Neste passeio são apresentados shows de danças típicas: carimbó, marujada, síria e lundu marajoara. Além da dança o visual da orla fluvial é muito interessante com muito movimento de barcos, pois o rio é utilizado como meio de transporte de praticamente tudo o que chega ou sai de Belém.
No retorno fomos à estação das docas, antigos armazéns que foram reformados criando um conjunto de bares, restaurantes e áreas de eventos. Tive a sorte de presenciar nesta noite um show do grupo de Balé Folclórico da Amazônia com uma bela coreografia e vestimentas multicoloridas. Na saída passamos por uma sorveteria e não resisti a diversidade de sabores. Pedi para provar todos os sabores típicos, dentre eles o delicioso sorvete de tapioca. Para encerrar a noite fizemos um tour pela cidade onde pude fotografar os principais monumentos e igrejas iluminados.

Segundo dia

A partir desse dia tive a companhia de um casal de São Paulo, Grabriel e Deise. Começamos bem cedo num tour pelo Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. Este parque retrata as principais espécies da fauna e flora da Amazônia, tais como a árvore Sumaumeira, o peixe-boi e o incrível poraquê, um peixe elétrico que pode ferir mortalmente uma pessoa. Mas ao meu ver a grande atração deste parque foi a vitória-régia, da qual fiz muitas fotos. Outro ponto interessante foi o Parque da Residência, onde araras soltas fazem a festa dos visitantes.
Logo mais nos dirigimos a famosa basílica de Nossa Senhora de Nazaré, onde se estava comemorando o Círio infantil, e milhares de pessoas disputavam um espaço na basílica e na praça. Mas a grande atração do dia ainda estava por vir e foi na feira ver-o-peso que pude realmente ver um pouco de tudo que se produz na Amazônia, desde peixes, carnes, frutas, artesanatos, especiarias e a medicina natural que tem cura para tudo quanto é problema.
Nosso almoço foi no restaurante do Hotel Fazenda Paraíso na praia de Mosqueiro. Distante cerca de 60 km de Belém é um dos locais mais procurados pelos moradores da capital e costuma ficar lotado nos finais de semanas e feriados. Banhado pela baia do Marajó, Mosqueiro possui belas praias de água doce com ondas e é local de muitas casas de veraneio.

Terceiro dia

O dia começou muito cedo quando as 6h30 estávamos embarcando no Lady Lídia com destino a Ilha do Marajó. A embarcação é bem grande e além do transporte de turistas também serve a população. Nas três horas de duração até o porto de Camará em Salvaterra foi possível observar a vida desta população que faz dos rios suas estradas. Praticamente tudo gira em torno dos rios e nele se transporta de tudo, até búfalos.
Após a chegada em Salvaterra fomos recepcionados pelo Álvaro que nos levou de carro até outro rio. Lá, fomos pegos pelo Beto, nosso novo guia local e após 30 minutos de voadeira, uma lancha rápida, chegamos na Fazendo Nossa Senhora do Carmo. Uma das muitas fazendas ativas de Marajó adaptadas para o turismo ecológico. A fazenda do Carmo está muito bem localizada e é de uma tranqüilidade incomparável. Após a chegada e distribuição dos quartos fomos recebidos com um delicioso almoço: filé de filhote, preparado com um tempero todo especial pela Socorro, cozinheira da fazenda.
Após o cochilo na rede, que passaria a ser sagrado nos próximos dias, saímos para uma cavalgada pelos campos. Cavalgada essa, que deixou lembranças por alguns dias. Passamos por lagos onde bandos de Jaburus e Maguaris tentavam extrair alimento no pouco de água que ainda restava. Já no fim do dia fomos até um rio onde o Beto pegou na mão alguns filhotes de jacarés. Não precisa dizer que fiz muitas fotos deles. De volta à fazenda era hora do jantar e de contar experiências do dia e de outras viagens. Numa dessas horas de descanso, examinei o livro de visitantes da fazenda e fiquei surpreso com o número de estrangeiros que já visitaram a ilha. Aliás, durante os dois dias que fiquei na fazenda conheci três grupos da Europa e Ásia.

Quarto dia

Acordamos às 5h30 e fomos de voadeira até os igarapés observar a vida selvagem. Durante o passeio foi possível observar vários animais, tais como o barulhento macaco guariba, garça, martinho-pescador, cigana e jurutaí. Outro ponto interessante nos passeios de barcos pelos igarapés são as raízes aéreas das árvores, pois essa é uma área de mangue. Retornamos à fazenda para o café da manhã e em seguida partimos para outro passeio de voadeira, após atracarmos o barco fizemos uma caminhada pela mata através de um sítio arqueológico, onde pudemos observar vestígios de uma antiga civilização indígena, como restos de cerâmicas e utensílios.
O Cláudio, também guia da fazenda, fez uma impressionante demonstração de como se apanha o açaí da palmeira. Com a própria folha de outra palmeira ele fez uma espécie de laço, batizado de peconha, que colocado nos pés permite que ele suba até o topo da palmeira com uma "aparente" facilidade. O Cláudio também nos demonstrou como se obtém a cura para muitos problemas com as árvores medicinais. Praticamente cada espécie da mata tem uma finalidade para o homem, desde fornecer madeira específica para a confecção de remos, até cura para cólicas, cicatrizantes, etc.
No retorno à sede da fazenda fomos fotografar os búfalos numa área alagada próxima e após o almoço aquele tradicional cochilo nas redes. Já com o sol mais fraco fizemos um passeio de búfalo pela fazenda. Fiquei impressionado, pois apesar de bem maior que o cavalo o búfalo domesticado é dócil e fácil de se conduzir.
Ao anoitecer tivemos uma atividade inusitada, saímos de voadeira com o Beto e o Cláudio Dias, proprietário da fazenda, para a focagem de jacarés no rio. Enquanto Cláudio pilotava, o Beto iluminava as margens e copas das árvores com uma potente lanterna a procura de olhos brilhantes, que poderiam ser de jacarés ou cobras. Para surpresa do grupo, que nesta noite incluía três indonésias, além de termos visto vários jacarés o Beto pegou com a mão um filhote de cerca de um metro de comprimento. Após uma pequena sessão de fotos ele foi solto novamente.

Quinto dia

Nos despedimos da fazenda do Carmo e fomos para a Paracauary Ecoresort, localizada a cerca de três quilômetros de Soure. A pousada fica às margens do rio Paracauari e logo na chegada fomos fazer um passeio de barco pelo rio e conhecer o furo do Miguelão, um canal aberto manualmente numa das curvas do rio para encurtar o trajeto dos pequenos barcos.
Após o almoço partimos para conhecer um pouco do município e suas atividades, tais como o artesanato em cerâmica e couro. O próximo programa me deixou extasiado, ao nos dirigirmos para a praia de Barra Velha, passamos por uma área de alagados com centenas, talvez milhares de Guarás.
O Guará é uma ave de porte médio típica da região norte de uma cor vermelha muito forte. Essa cor é devida a um tipo de crustáceo que é seu alimento predileto. A praia de Barra Velha é ponto de encontro dos moradores de Soure e vive lotada nos finais de semanas. Suas águas também passam de doce a salobra dependendo da maré, apesar do mar estar a cerca de 60 km baia afora.
Para fechar o dia com chave de ouro retornei para a pousada a tempo de conseguir um belo por de sol no rio Paracauari e um bate-papo na piscina com um grupo de cariocas e alemães.

Sexto dia

Fui apanhado às 7h da manhã pelo Jerônimo da Fazenda São Jerônimo que durante o trajeto me contou os planos de desenvolvimento turístico na fazenda que ganhou fama nacional quando serviu de cenário para a realização do programa No Limite III da rede Globo. Guiado pelo Sr. Raimundo, proprietário da fazenda, e juntamente com dois franceses, fizemos um passeio de canoa pelos igarapés Goiabal, Tucumanduba e Tucumandubazinho.
Além das muitas garças e guarás que cruzaram nosso caminho fiquei impressionado com o número e tamanho das raízes das árvores do mangue.
Após um delicioso peixe preparado por Dona Jerônima fiz um passeio pela praia do Goiabal e praia do Pesqueiro. No caminho dessa praia passei novamente pela área dos Guarás e não resisti em fazer novas fotos.

Sétimo dia

Acordei muito cedo e o Álvaro me trouxe para o porto de Camará para pegar o barco das 6h30 de volta para Belém. Uma vez em Belém fui para Icoaraci visitar algumas lojas de cerâmica. Foi realmente impressionante ver o trabalho dos artesões e como é confeccionado um vaso desde a moldagem da argila até o desenho e pintura. Aproveitei para fotografar várias peças atuais e reproduções de cultura marajoara na loja Anísio.

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